segunda-feira, 28 de abril de 2014

43

o penteado dos coqueiros
o céu de vestido vermelho
as cordas as canelas bambas
das estátuas na fila da forca
os brilhantes da coleirinha
do cão da madame de cera
e todos os insetos em crise,
que-dia!
que designer de exteriores!
nuvens higiênicas e modernas
árvores bem projetadas
o lixo bem disposto
a grama cortada na tesoura
os peixes os besouros
criados em cativeiro e essas
grades emoldurando o olho
eu faço parte do cenário
mas, isso, não escolho
o que eu tô fazendo aqui,
- que nojo! 
entre os pontos finais 
na fila das reticências?

quinta-feira, 24 de abril de 2014

42



sou uma crazy
estátua hiperrealista 
parada no banheiro
da galeria
eternamente
perdida no instante x
de abandono
searching for
pupilas sem dono


sábado, 19 de abril de 2014

41 (ou Pra não dizer que não falei do foda-se)

1)         Onde você flor
            atrás eu voo

2)         Tudo que flor,
            murcha

3)         O que flor pra ser,
            será

4)         Se olho flor for
            te lamberei as
            pétalas

5)        Quando foste flor,
            fui foda-se 

40

Aqui
naufraga-se
em qualquer
poça 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

39

Quando fomos embora
A natureza tomou conta
Do que deixamos pra trás

Mas absolutamente nada
Pode ser abandonado 
Apenas recolocado 
Nos cantos onde o tempo
Entorta os espaços, então

uma pergunta permanece:
Se árvores crescem em tetos
porque construímos tetos
de concreto?

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

38

verdes e atentos
como alface americana
seus olhos são como
lojas que funcionam
as vinte e quatro horas

são cheios de nuvem
de dúvidas perguntas
dignas eretas como as
interrogações das rosas
que não querem nada
só chuva nem resposta

nascem trigais
filhotes de panda
icebergs impérios
onde seus olhos olham
verdes como um exagero
um tapete de banheiro
piscam de hora em hora
e guardam um pouco
do mistério da aurora 

37 1/2


fevereiro vem sempre
depois de janeiro
o ovo sempre depois
de alguma coisa
a galinha assada frita cozida
está sempre morta no prato
se uso garfo mão
não importa
está sempre morta

algumas coisas escolho
como bater um bolo
se pulo, se voo
quando verão não
quando é verão

o óbvio é bonito
precisa ser dito:
tua boca cabe
numa metáfora

preciso dizer!
preciso dizer!
preciso dizer!
mas escolho
deixar morrer.

na distância que crio
(para manter a forma)
você se deforma como
aquelas gelecas, sabe?
é uma imagem triste,
como pagode e praia.
sabe?

e é por isso que digo:
a vida é boazinha
deixa sempre escolher
depois de já ter escolhido

37

tua boca é
meta ou metáfora? 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

35 1/2

coisas falam demais
entre às 3 e às 6 e
cinquenta e sete
dos dias ímpares

pediu
socorro
pediu
silêncio e
sentiu
nada exceto sede

o sol de 1 morte
fosforescente como as
cores da coleção completa
do Manoel de Barros
secava-lhe a garganta

tinha nariz faringe laringe
traqueia brônquio pulmão
vontade de socorro silêncio

e de não respirar

36


três pontos finais
não terminam uma frase
e nós dois sabemos que
a trajetória da borboleta 
é uma carta

dois caras coçando a cabeça
ao mesmo tempo é um quadro

duas girafas coçando a cabeça
ao mesmo tempo é um quadro 
de uma outra sessão

nesse canto do museu
você coça minha cabeça,
a tarde se maquia 
de reticências
as horas recortam-se
em borboletas:
esse quadro vai ser esquecido
ou sequer pode ter existido 

quando morrer
vou ser esquecido 
até não ter existido 
como uma carta escrita no ar 
por uma girafa com asas 
de borboleta