sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

31


não dependo de moeda
pra decidir sobre nada

,

todo medo
cabe num segundo

...

longe do meu quarto
um quarto

onde

o que não preenche
enche

.

amor não é carne
amor é sua carne

mas

não amo nada
nada me ama

tudo bem

que se amem
os de amém



no meu quarto, jogo cara e coroa pra preencher um poema de carne mas só encho de medo e nada, amém!

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

30



esse vai ser um poema bonitinho 
como a flor de uma planta carnívora
as asas de uma mosca 
e as tetas daquela moça

esse poema bonitinho 
é feito pra colar na geladeira, 
pendurar no varal ou
pra ler de cabeça pra baixo num domingo 
ele não serve pra nada, diga-se lá
ele é só bonitinho:
como um melão, uma abelha,
o Faustão e os dedos da sua mão

ele é bonitinho,
como tudo quando acorda,
mas não serve pra nada,
como tudo quando acorda,
bom dia!

29



não sei qual meu filme preferido
não sei qual meu livro preferido
nem a música, nem a comida, nem a cor
não sei falar sem gaguejar 
e fico desenhando coisas pra me culpar
aos domingos, me sinto muito sozinho
e na segunda como semente de cacau
quero retardar o envelhecimento
mas sete vezes por mês penso
como seria bom morrer jovem
gosto de muitas pessoas
gosto muito do meu cabelo
cada vez mais gosto de muitas pessoas
cada vez mais gosto do meu filme preferido
mas fico criando distâncias
distribuindo o tempo na agenda
não sei dizer qual animal eu seria
então me imagino bem longe da Terra
depois bem dentro dela
imagino quanto eu aguentaria no supino
se a vida da minha mãe estivesse em perigo
hoje meu nariz é minha parte preferida
é clichê dizer que nada faz sentido
mas faz sentido sentir isso tão forte
aos domingos?

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

28




não vou mentir:
olho pro céu e penso nos seus mamilos
as nuvens me mostram elefantes morsas lasanhas
mas eu vejo seus mamilos eriçados excitadíssimos
perigosamente apontados pra estratosfera
refletindo a luz daquela bola amarela que vai explodir em
48094302398217498217490218440921840912840921840921804982109482109840921840921840921794872187468712964194087318947329473987483260578326587326893270921909482198472198749821749821749872194872184721984782197498210482109482109949024781374981327498132749031748931748137487613784673186487136472106489'478912748974891274891374981284091248091284914981274082478921748913647316484789218490218492484910840218409218490214092147892140789136478132657835673894639186431876734631873481481927409281748219748219748921748921741635735687354673546724521436215436263027489327493428917482197482190039837267182939576658493920013721847138265365365897384246721698712837209850968096787589264726491827410840184092375987298448091841
segundos

antes disso, lamber-te-ei os mamilos

27



















Teias de aranha enforcam aos domingos
Eu posso te abraçar ou podemos ser só
dois corpos separados pelo ar!

Shakespeare
já ele havia entendido o perigo
de uma aranha num domingo 
já ele havia escrito sobre nossos 
corpos, morte, rei e o espaço, 
diz:
"ou se está abraçado... ou não."
digo:
"gênio." 

Procuro boas aranhas 
em maus domingos 

Procuro braços que valham
a segura distância do ar

Procuro no decolar.com
uma passagem só de ida 
pra

Faz mesmo muito frio 
em Plutão? 

26



já não me incomodam os pelos
e já caibo melhor neste corpo de
21 quase 22 anos

embora não saiba ao certo 
quando mesmo deixei os 19
e nem se é verdade o papo dos 30

foda-se
mais uma vez
foda-se
vamos lá, comigo
foda-se

sopra velinhas
faz pedidinho
e corta o bolinho
de baixo pra ciminha

que seja feliz,
que não morra sozinho
nem tão cedo
dois pontos

tudo me incomoda: os pelos, o corpo, os anos, os 30, o foda-se e as velhas do bolo

sábado, 7 de dezembro de 2013

25

eu pergunto
o que você esconde
(como se alguém pudesse fazer essa pergunta para alguém)
e desperdiço dois poemas (!)
porque tá cedo demais
pra escrever o que eu
deveria esconder

é sempre cedo (?)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

24

quando o sol apaga as estrelas
a noite vai pra trás dos olhos
onde é sempre quase amanhã

amanhã,
duas bocas formam um sorriso

por detrás das pálpebras, esse teto,
pinturas ancestrais e secretas,
onde nenhum homem nunca pisará
sem sempre antes se afogar

essa mordida recém-nascida
o brilho de um estrela de dia

em boca fechada,
não entra tua língua...

quando o sol apaga as estrelas,
eu fecho os olhos,
e acendo-as todas:
é sempre noite no céu que mora na tua boca 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

23

não quero filhos
prefiro uma lareira,
uma parede de tijolos,
um maço e um livro

os personagens podem ter filhos
eles podem ter lareiras e até livros  
mas não devem fumar e, se fumarem, 
recomendo que não tenham filhos

eu não quero filhos
pra não ter que fumar só aos domingos

o papel branco já é uma baita responsabilidade!, 
é mais barato!, mais limpo!, silencioso!,
e não me deixa o cabelo branco!,

a relação custo x benefício me parece bem clara,
lógica como as camadas de uma lasanha. 

não quero filhos
prefiro uma lareira 
onde possa queimar os livros 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

22

Ornamental e solto
é o salto da sua sombra
na minha sobra

Eu salto
e minha sombra solta
e sobra no trampolim

Da mesma prancha,
você solta n'água
o que sobra da minha sobra:
MAS VOCÊ NÃO SALTA,
VOCÊ NÃO SOBRA.
VOCÊ SÓ SOLTA.

Eu não solto e sobro inteiro
e depois salto de cabeça
na gota que salta
do suor que sobra
da sombra que falta. 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

21

olho pro lado,
não pra você, veja vem, 
mas pro lado. 

escolho não olhar pra frente,
não olhar pro lado que você não está
e escolho não fechar os olhos.

escolho olhar pro lado que,
por coincidência (!),
você está.

percebe?

olho pro lado, não pra você,
mas você está do meu lado!

percebe?

as coincidências são queridas, sacanas e existem.

você é tudo isso e existe,
mas olha pro outro lado.

percebe?

terça-feira, 1 de outubro de 2013

20

não tem tranquilidade que valha o desespero de te colocar no papel; qualquer palavra truncada, a vírgula trocada, é um amor, uma arma!, que aponto pro meio da tua testa, como se te oferecesse uma rosa-da-cor-da-tua-boca, que aponta para minha, mas, sem foco, erra a mira; aponto uma palavra pro meio da tua testa; atiro, te mato, você gosta, eu finjo.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

19

Dificulto o acesso
Porque sou 2+2
Banal, banana
Tão igual a 4
Soma sem graça
Como nota de 4

Quadrúpede ereto
Dificulto o acesso

Menina medrosa
De voz bem grossa:

Eu-destruo-o-acesso
Pra que você acesse
(isso é um convite)
(e rima com estalactite)

Sei ser espontâneo
Como uma banana

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

18

o grande problema é essa "vontade de ser feliz do seu lado" travestida dessa "certeza de que do meu lado você seria muito mais feliz": a vontade é vaidade, a certeza é mentira. 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

17

te passo, páginas
sem ler tuas linhas
já sei teu tema
e não termina

mas se te terminas
e não te leio
permanece aberto
não cama que não deito

e se não terminas
e assim te deitas
é porque você não leu direito, porra

16

No espaço desse tempo
É por pouco que existo
2 olhos, 1 lápis, não insisto
Quero, mas já não tento

Desenho teu olho de lápis
Pra chamar sua atenção
Enfio o lápis no meu olho

Se culpa existisse,
Ela seria toda minha

PS: Um pingo de olho no papel se confunde com a farofa da borracha. Penso que deveria te comprar flores. Mas não tenho mais lápis pra escrever o bilhete.

domingo, 15 de setembro de 2013

15

um sopro eletrônico
num ouvido de carne

não tem som que supra
teu sopro sobre a carne

teu silêncio não supre
tuas super palavras,
que estão deitadas sobre
outra pele que te supre
mais que a minha sobre
a tua super carne.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

14

ti imaginu sem roupa
ou cum muito pouca
the weather is blue
mas dou zero clue
di qui eu nem tanto



13

precipito
qualquer
princípio

precipito
qualquer 
precipício

qualquer
princípio 
precipício 

precipício 
precipita 
qualquer

qualquer
princípio
precipita 

qualquer
precipito 
qualquer 
princípio
qualquer
precipício

me precipito
no princípio
de qualquer
precipício

me precipito
no precipício 
de qualquer
princípio

terça-feira, 10 de setembro de 2013

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

11

se vida fosse fácil de achar, eu perderia todas só pelo prazer de te procurar; mas nada é; então me beija pra sempre agora, diz que acabou, depois volta? 

domingo, 8 de setembro de 2013

10

vou me escrever sobre o que te vejo:
são duas portas verde-musgo,
um corredor magro-escuro
é claro que te vejo no fim verde disso. 
ele acaba quando você chega,

(você não me conhece no escuro).

o que se tem é o que se subtrai do desejo. 
e é triste o tudo que fora se joga,
mas fora nada é triste se te vejo.

09


uma blusa jeans me toca no ombro
tapa meus olhos com mãos sem dedos 
pede, com boca sem lábios, um beijo.
mas assim? sem cinema, vinho, sem lábios? 

ela me envolve nos braços de pano azul e,
em silêncio, me puxa pra fora do asfalto,
seu cheiro é aquele da pele da tua nuca. 
embora fosse só pano, tirou tudo que tinha.

eu nunca mais conseguir acordar. 

procuro nas mãos, dedos que nunca tive e
faço yoga nos lábios que nunca foram espelho.
o corpo que nunca conheci é aquele com quem 
quero me deitar enquanto não consigo acordar. 

de jeans, sem nada, te procuro fora dos dias 
sei que não saberei desabotoar teus botões, então
sonho te encontrar em algum sonho já sem camisa:
com dedos, lábios e aquele cheiro da pele da tua


08

o dia tá lindo. e mesmo assim meus sentidos buscam os teus, como se isso fizesse algum sentido.
não faz.
não faz sentido o sentido que você me faz.
se fosse chuva, te procuraria escorrendo pela janela, mas faz sol e então simplesmente não-faz.
seus olhos são grandes demais e preferia que isso não me fizesse tanto sentido.
mas nesse domingo de sol, sua boca fica ainda mais vermelha, e, desculpa, isso faz muito sentido.
faz sentido o sentido que você não me faz?

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

07



seguro tua cara numa memória e, 
nela, segura está qualquer palavra
que ainda não precisa ser escrita. 

DEVERIA SER MEU TUDO O QUE TE TORNA PALAVRAS MINHAS. 

DEVERIA SER MEU TUDO O QUE TE TORNA PALAVRAS MINHAS.

DEVERIA SER MEU TUDO O QUE TE TORNA PALAVRAS MINHAS.

mas não é seguro:
tua cara,
minha memória,
qualquer palavra.

tudo que não te digo,
não deveria mesmo ter sido dito.

tudo que te digo,
não deveria nunca ter sido dito.

O QUE DEVERIA TER SIDO DITO?

O QUE DEVERIA TER SIDO DITO?

O QUE DEVERIA TER SIDO DITO? 


Sou o ter sido dito. 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

06

não te conto; mas penso; penso como seria se fosse como penso; não te conto; mas conto nas horas os dias que não te conto o que penso.

05


que sorte tenho
por não ser da minha natureza
implorar por qualquer que seja

seria legal morar num trailer, deitar de tarde no verde e ter todo tempo pra me enfiar na tua natureza 

que sorte tenho
por não ser da minha natureza
implorar por qualquer que seja

que tal morar comigo num trailer?; deitar no verde de tarde e ter toda natureza pra me enfiar no teu tempo

que sorte tenho
por não ser da minha natureza
implorar por qualquer que seja

PELO AMOR DE DEUS, MORA COMIGO NUM TRAILER! EU CORTO A GRAMA, COLOCO A LOUÇA E LAVO A CAMA! 

04

não te conto; mas penso; penso como seria se fosse como penso; não te conto; mas conto nas horas os dias que não te conto o que penso.



quarta-feira, 4 de setembro de 2013

03

quero te engolir; 
deglutir tua língua procurando a minha; 
esquadrinhar tuas papilas; 
mergulhar por tua goela abaixo; 
contar o que brilha no céu da tua boca; 
ficar melhor amigo das tuas bactérias; 
arrancar teus mais biológicos segredos; 
quero mergulhar (sem cueca) por tua goela abaixo; 
e me pendurar na tua úvula; 
nadar crawl no teu esôfago;
te conhecer de cabo ao rabo;
morder o lado esquerdo da tua bunda; 


só me interessa a sua violência

te engolir dos pés até a cabeça;
depois cafuné, tomar café;
ver amarelar teus trinta e dois dentes;
de manhã, amolar com calma teus caninos;
sentir o vermelho da tua mordida;
quero teus cabelos me prendendo no pé da sua cama;
teu pé amando meus ouvidos;
e tua saliva lavando minha orelha;
fechar os olhos e correr perigo. 





02


faz um frio fora do lado de 
e se não posso estar do de
não tem problema porque
me dou bem em qualquer
frio.

01

roubei uma página de um caderno de alguém que não conheço para escrever isso:

evito ir fora da Terra;
evito o seria;
o que é já.
evito o fundo do mar;
evito qualquer fundo,
o que tem lá, tem cá
e a superfície já.


odeio tudo que parece poema