domingo, 29 de junho de 2014

domingo, 1 de junho de 2014

51

vou repetir
até cansar de pedir
a minha obstinação
é a única ação
que conheço
já que não sei
o que mereço

sábado, 31 de maio de 2014

50

as linhas que costuram
a carne das minhas mãos
surpreendem a impalpável
concretude do destino
sigo vazando-me
em números que choram
em palavras que abraçam
que espancam que espantam
sigo seguindo, costurando
e desabotoando camisas
na infindável procura
de dicas, segredos e pele
mesmo que algumas coisas
doces caiam salgadas
sigo largando meu corpo
em camas que me caibam
sem saber se meu destino
está cravado na minha mão
ou se é minha mão
que penetra o sexo do tempo
pra gravar alguma eternidade
que honre a perecível vida
que me deram


no mais, sigo seguindo  

sexta-feira, 23 de maio de 2014

quarta-feira, 14 de maio de 2014

48

tua língua
invade minha boca
como um pedaço de carne
procurando outro pedaço 
de carne perdido
no escuro espaço

47

sua falta
devagar
por dentro
me asfalta

segunda-feira, 5 de maio de 2014

quinta-feira, 1 de maio de 2014

45





eu quero dormir
no mesmo instante

que você 

pra te encontrar
no sono
das coisas

44

o mar de olhos fechados
no intervalo dos prédios
a feliz vida dos segundos
fora do pulso das horas

sentir amor por dois
segundos 
antes das ondas
quebrarem o sono
da praia

é som de mar 
o som que mora 
no tímpano
dos amores? 

segunda-feira, 28 de abril de 2014

43

o penteado dos coqueiros
o céu de vestido vermelho
as cordas as canelas bambas
das estátuas na fila da forca
os brilhantes da coleirinha
do cão da madame de cera
e todos os insetos em crise,
que-dia!
que designer de exteriores!
nuvens higiênicas e modernas
árvores bem projetadas
o lixo bem disposto
a grama cortada na tesoura
os peixes os besouros
criados em cativeiro e essas
grades emoldurando o olho
eu faço parte do cenário
mas, isso, não escolho
o que eu tô fazendo aqui,
- que nojo! 
entre os pontos finais 
na fila das reticências?

quinta-feira, 24 de abril de 2014

42



sou uma crazy
estátua hiperrealista 
parada no banheiro
da galeria
eternamente
perdida no instante x
de abandono
searching for
pupilas sem dono


sábado, 19 de abril de 2014

41 (ou Pra não dizer que não falei do foda-se)

1)         Onde você flor
            atrás eu voo

2)         Tudo que flor,
            murcha

3)         O que flor pra ser,
            será

4)         Se olho flor for
            te lamberei as
            pétalas

5)        Quando foste flor,
            fui foda-se 

40

Aqui
naufraga-se
em qualquer
poça 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

39

Quando fomos embora
A natureza tomou conta
Do que deixamos pra trás

Mas absolutamente nada
Pode ser abandonado 
Apenas recolocado 
Nos cantos onde o tempo
Entorta os espaços, então

uma pergunta permanece:
Se árvores crescem em tetos
porque construímos tetos
de concreto?

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

38

verdes e atentos
como alface americana
seus olhos são como
lojas que funcionam
as vinte e quatro horas

são cheios de nuvem
de dúvidas perguntas
dignas eretas como as
interrogações das rosas
que não querem nada
só chuva nem resposta

nascem trigais
filhotes de panda
icebergs impérios
onde seus olhos olham
verdes como um exagero
um tapete de banheiro
piscam de hora em hora
e guardam um pouco
do mistério da aurora 

37 1/2


fevereiro vem sempre
depois de janeiro
o ovo sempre depois
de alguma coisa
a galinha assada frita cozida
está sempre morta no prato
se uso garfo mão
não importa
está sempre morta

algumas coisas escolho
como bater um bolo
se pulo, se voo
quando verão não
quando é verão

o óbvio é bonito
precisa ser dito:
tua boca cabe
numa metáfora

preciso dizer!
preciso dizer!
preciso dizer!
mas escolho
deixar morrer.

na distância que crio
(para manter a forma)
você se deforma como
aquelas gelecas, sabe?
é uma imagem triste,
como pagode e praia.
sabe?

e é por isso que digo:
a vida é boazinha
deixa sempre escolher
depois de já ter escolhido

37

tua boca é
meta ou metáfora? 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

35 1/2

coisas falam demais
entre às 3 e às 6 e
cinquenta e sete
dos dias ímpares

pediu
socorro
pediu
silêncio e
sentiu
nada exceto sede

o sol de 1 morte
fosforescente como as
cores da coleção completa
do Manoel de Barros
secava-lhe a garganta

tinha nariz faringe laringe
traqueia brônquio pulmão
vontade de socorro silêncio

e de não respirar

36


três pontos finais
não terminam uma frase
e nós dois sabemos que
a trajetória da borboleta 
é uma carta

dois caras coçando a cabeça
ao mesmo tempo é um quadro

duas girafas coçando a cabeça
ao mesmo tempo é um quadro 
de uma outra sessão

nesse canto do museu
você coça minha cabeça,
a tarde se maquia 
de reticências
as horas recortam-se
em borboletas:
esse quadro vai ser esquecido
ou sequer pode ter existido 

quando morrer
vou ser esquecido 
até não ter existido 
como uma carta escrita no ar 
por uma girafa com asas 
de borboleta

35

variedade de frutas
matemáticas árvores
cálculos astrofísicos 
prisão de sentidos 
sexo do mesmo sexo
imãs na geladeira
espermatozoides chão
sapos rãs terceira idade
colágeno córtex vertebral
coluna cerebral oceano
grafia estrela cadente 
de cinema flash foto
síntese flores no caminho
semente de melancia 
no estômago buraco 
negro percurso da lágrima 
cachoeira silêncio santo sinfonia
agonia amarela ovo manga 
triangulas bermudas
naturais círculos tumbas 
vigésimo segundo 
aniversário mais azul da terra 
príncipe pequeno mucosa não 
saber infância:
quando não lembro,
invento deus.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

34


o segundo
pulou do relógio,
não sem razão:
era tedioso demais
a falta de imaginação
dos ponteiros.

se tratando
de círculo,
o segundo
é mais redondo
do que a volta
mais cuidada
do ponteiro
mais tirano

depois de inventar
prédio ponte país ponteiro puteiro poema pires
dados dedos dogmas dúzias dores deuses dildos
o homem olhou pro relógio:
pensou tempo demais no tempo
e pétalas de menos em flores.

castrado e castrador
agarrou aquele segundo fujão que,
besuntado de cuspe,
foi colado de volta no relógio que,
aliviado,
até terminou o dia antes do sol:
quem olhava o céu,
não percebeu,
quem olhava o relógio

... 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

33


verdade não é
pra poeta
é pra poema

não tem cara
célula da pele
não se pode
acariciar
estuprar
fatiar feito pizza
como tudo
é bela eterna
até que se observe

é pena
que o poeta exista!
o poema era
belo eterno
antes do lápis
manchar o papel de
funk
porra e
pizza

o pão
não precisa
da fome

a água
não precisa
da sede

o poema
não precisa
do poeta
assim como
o gozo
não precisa
do pau

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

32


eu na mesa do dentista
uma nave na minha boca
você e eu dentro dela
procurando vida fora da
gente

procura-se

você é azul
mas prefere que o céu me ensine a ser livre
risos

baby
ai ême fré sou
please
prenda-me

você sabe que não sou daqui
sou daí então
e daí?

tem uma nave partindo da minha língua:
NOW BOARDING TO NETUNO
eu sei, o ticket tá encharcado de saliva
mas a janelinha é tua
e a casinha que construí em netuno
também

ok,
antes chove em mim
e depois faz sol
só pra desenhar
vinte e dois arco-íris
bem em cima do
meu colchão

(você curte exagero
por isso exagero)

comprei lápis, dentes, dedos e um PEDAÇO DE NETUNO

eu sei, baby
eu sei que você gosta que eu te compare com o céu
o que você não sabe é que ele é mais fácil de tocar

(cansei de exagerar)

eu na mesa do dentista